Por Vagner Campos - Recordista Mundial de objetivo declarado.
Bom, vamos falar um pouco sobre meu desenvolvimento técnico e mental no voo livre em Parapente. A grande maioria de pilotos estão incansavelmente buscando uma formula mágica para que consiga conquistar a tão sonhada consistência e regularidade de bons voos durante nossa trajetória no esporte. Conhecemos desde pilotos que trocam de vela de 6 em 6 meses, a pilotos que leem de tudo, que falam de tudo. Mas será que existe uma formula mágica para conseguirmos sermos bem sucedido no esporte? Sinceramente, não! Irei explicar. O que eu garanto que existe são atalhos, e isso falo com muita propriedade, pois foi o caminho que eu vi que dava resultados e ainda dão. O conhecimento durante nosso trajetória no esporte é constante, mas é importante o piloto se dar essa oportunidade de absorver conhecimento, desde de simples pregos a ficar uma tarde toda observando nuvens. Inclusive, recomendo isso em todas as minhas atividades com pilotos que iniciam seus treinamento comigo para melhorarem sua performance. Outro ponto importante também é saber lidar com as frustações, mas isso vamos falar um pouco mais pra frente. Vamos voltar e falar sobre o atalho. Este ponto é simples, buscar um profissional do esporte que tem muita experiência e uma didática que consiga repassar isso aos pilotos afobados e ansiosos com seus equipamentos tops do mercado mas que não tem a paciência de aprenderem e respeitarem o processo do desenvolvimento. O que eu quero dizer com isso? Muitas vezes os pilotos são iludidos que de que um equipamento de alta vai fazer dele um piloto "pica das Galáxias", frase que aprendi com o finado Vincenzo, grande piloto. Mas o que isso tem a ver? Isso afeta diretamente o estado mental do piloto, tendo em vista de que para se desenvolver você precisa em algumas situações forçar a barra, dar um paço maior que a perna e por mais que você não queira, as vezes você acaba entrando em uma situação indesejável, falo em relação a condição meteorológica, ao menos que você seja um piloto conservador e muito, mais muito consciente de que não deve avançar no sinal amarelo. Serei um pouco mais especifico no ponto de que é importante voar primaveras ou verões com sua vela. Comprar um equipamento no final da temporada primavera - verão e trocar novamente antes dessas épocas, é uma enorme besteira. É de extrema importância que o você piloto faça no mínimo 200 horas de voo em um equipamento, ao menos que você esteja com um equipamento muito lixo e de repente role uma oportunidade para que você compre um equipamento mais atual, porém mantendo o nível de segurança da atual. O fato de um piloto iniciante ficar no mínimo um ano com uma vela A, vai fazer muita diferença no seu desenvolvimento, principalmente pra ter maior facilidade em voar em condições de turbulência. Mas também não podemos deixar de falar sobre outro ponto que em conjunto com este, focado no piloto iniciante vai fazer muita diferença, o instrutor. Muitos pilotos são o reflexo de seu instrutor e hoje no Brasil temos uma difidência muito grande na formação de novos pilotos e também não temos um padrão educacional que faz com que tenhamos pilotos de nível básico fazendo o mínimo que é decolar e pousar bem em condições delimitadas ao nível dele, falta literatura, livros muitos restritos e coisas boas a maioria vem de fora, mas essa conversa vem em outra hora em outro post, esse assunto vai longe, enfim. Voltando ao assunto inicial o processo de desenvolvimento saudável de um piloto tem grande base na primeira vela A, dando não apenas a sensação de segurança mas protegendo o piloto das barbeiragens que ele comete durante seu desencolhimento. Piloto novato voa em rotor sem saber, pousa de cauda, negativa vela, entre outros que eu mesmo já fiz muita cagada, mas quando precisei de sorte, tive. Entretanto também soube aproveitar bem a segurança passiva que minha vela me oferecia e entrava nas condições mais fortes por estar totalmente confortável com o equipamento, e durante esse desenlvimento fui aprendendo que eu subia bem com a vela mas sempre ficava pra trás, pois nesta época era bem quando lançaram a Cayene 4 e eu ainda voava de Prymus 3. Aprendi que o importante era se manter alto e que com paciência eu chegaria onde meus amigos chegavam e por sorte de principiante, algumas vezes cheguei até passar meus amigos em distância, então imagina a felicidade que eu tinha quando descobria que tinha pousado mais longe que meus amigos. fiquei 1 ano e 4 meses com a prymus 3, e falar pra vocês, pintei e bordei com ela e a performance era o ponto que eu senti que estava na hora de trocar de vela. eu não conseguia chegar nas térmicas que eu enxergava, precisava de um equipamento mais rápido com mais planeio. Rapidinho um resumo, treinava com a prymus sempre que dava, dia de voo montanha e dia de não voo, morrinho. Então era treino inflar, pouso restrito no morrinho e montanha, térmica. Praticamente era isso minha vida com a prymus, e a mudança de equipamento apareceu e veio mais pela oportunidade de pagar pouco por uma vela pouco usada que ninguém queria. Basicamente foi assim, Uma vela C, Air Wave cobra 1, que um amigo nosso tinha comprado no peso errado, tomou algumas fechadas e a vela ficou famosa por ser perigosa. Conclusão, passou na mão de uns 4 antes de vir pra minha com no máximo 30 horas de voo, zera!!!! Bom, pedi pra fazer um teste e no dia foi eu e o Japa Alysson fazer um voo de sudeste no Pico do ububu. Cara, na cada da rampa logo batemos em um canhão de 4m/s, e como eu tinha ficado uns 30 minutos inflando a vela na rampa, tive que entender a pilotagem dela nessa subida na cara da rampa, foi loco! Bom resumindo, neste dia saiu meu primeiro voo de 100km, pousei em Jarinu, passando por Atibaia. Um voo que fomos pelo buraco dos espaços restritos de SJC e GRU, por cima da Dom Pedro, pra poder passar, mas isso em 2013, hoje em dia inviável fazer um voo como este.
Fiquei com a Cobra 1 por 8 meses e logo apareceu uma segunda oportunidade de comprar uma vela praticamente nova com umas 4 horas de voo e um preço atrativo. Bom não pensei duas vezes, dinheiro na mão e pirado pelo voo em busca do desenvolvimento, troquei. Mas já era uma fase de progresso acelerado no esporte, pois já me dedicava muito no voo e voava muito, e quando troquei a cobra pela Gin - Carrera B -hot, foi uma mudança radical. Me sentia e outro mundo, como voava a vela, fiquei fascinado. Com isso também veio a vontade de aprender mais, foi ai que comecei a correr atrás de outros objetivos no esporte, foi quando conheci Samuel Nascimento, fiz o curso dele o X-Comp, e tirou algumas dúvidas que pairavam na minha cabeça que foram fundamentais para eu me deslanchar. A partir dai, comecei a ir pra campeonatos, onde na primeira etapa que corri na Ilha do ar, em Santo Antônio da Alegria, SP, nem sabia montar prova em gps, os amigos me ajudaram a montar e fiquei e 3º lugar, primeiro campeonato, imagina. E com a mesma Gin carrera corri muitos campeonatos, até Brasileiro que fui correr e a vela tinha recém completadas 450 horas de voos registrados, mas que ainda dava muito trabalho principalmente pra galera que voava de C. Bom e chegou a hora de trocar, tive uma super oportunidade de pegar uma vela nova, pois a Carrerinha já teria de ser aposentada e consegui pegar a melhor vela que eu tive na minha vida até hoje e que me deu um recorde mundial voando na melhor fase que eu tive no esporte, espero voltar pra esta fase, quem sabe...rsrs. Peguei uma Ozone Zeno 1, que vela meus senhores, que vela!!! Da Carrera pra Zeno a adaptação foi perfeita, a carrera parecia até que trabalhava mais que a zeno...kkkk. E como eu já tinha ido pro sertão com a Carrera e feito 390km, o Sertão ficou com uma dívida comigo, e eu teria que voltar lá pra buscar este troco que faltou de 10 km pra completar os tão sonhados 400km voados. Fui em 2015 pra Quixadá CE, retornei novamente pro Sertão, mas desta vez pra Caíco RN e decolando rebocado e não veio apenas os 400km, veio o Mundial de 451km objetivo declarado e dois dias depois eu declarei 520 km e cheguei no 517km, mas eu tinha errado a navegação e fiquei a 9 km na lateral do pilão, sai muito e a condição pra rota do pilão tinha ficado muito pra direita, uma pena.
Depois retornei pro Sertão com a Gin - Boomerang 11, também rolou voos de 400 e um que talvez deu 500 mas acabou a bateria do gps com 2500 metros de altura com 485km voados, mas não tenho como provar, então ficou em haver.
E agora eu pergunto novamente pra vocês, existe formula mágica ? Vocês me respondam. O importante é você encarar o esporte, por mais que você esteja no início ou já tem um tempo na prática do esporte, é criar um proposito, e não praticar por praticar, digo pra você criar objetivos, se fazer a seguinte pergunta, "quem você quer ser no esporte daqui 5 anos, 10 anos, 20 anos." Se façam essa pergunta, principalmente seja aberto a receber conhecimento, não se frustre de pregar em um dia bom de voo, que só você ficou, não chore, kkkk... Já chorei muito, também. Mas aprendi que era importante, assim que pousar entender o que eu tinha errado, onde começou meus erros, e talvez você que já esteja um pouco mais desenvolvido, sabe que quando você pousa o erro não começou no final, que você ainda tentou salvar aquela térmica a 70 metros de altura que se talvez tivesse caprichado um pouco mais teria subido e salvado o voo, não!!!! Você errou lá atrás, e é importante identificar onde esse erro foi cometido e trabalhar em cima deste erro, para que no próximo não ocorra mais, mas que isso não inibirá que outros erros aconteçam, mas que sejam erros diferentes, porque quando você erra somente em um erro e isso persiste, isso é um problema, e um problema maior ainda é quando você não enxerga isso. Alguns pilotos tem isso como se fosse uma parede, vamos colocar alguns exemplos, "há, eu não consigo passar do km 30", "há, eu não consigo passar daquele local." São exemplos realistas que são como se você criassem esses obstáculos no seu inconsciente e quando você chega neste ponto, PÁ!!! O Seu inconsciente te derruba, batata...
O seu estado mental, como você lida com a perda é importantíssimo para o seu bem estar no voo, como você recebe isso. Eu costumo sugerir pra galera que receba de uma forma que você esta sendo testado, e o esporte me mostrou isso durante esse tempo, nós somos testados o tempo todo e você recebe o que colhe e isso não é apenas no esporte, na vida também. A todo momento você é testado! Então, leve isso com vocês, aprendam a lidar com frustrações, e lembre-se que o erro vai ter fazer um piloto melhor, são fases que podem ser rápidas mas que podem persistir. E caso persistam, busque um profissional que possa te ajudar a superar esse obstáculo e ajuda-lo a superar essa fase. Obrigado por chegar até aqui, nos vemos nas próximas conversas.
Se você gostou, compartilhem com os amigos. Grande abraço, Vagner Campos - Piloto Recordista Mundial e instrutor pela Confederação Brasileira de voo livre. Madrugada do dia 30/07/2023
Parabéns meu amigo, sua historia é linda e motivadora para quem esta correndo atrás de evolução no voo, fico orgulhoso de ser seu amigo e fico sempre na torcida por suas conquistas.
Forte abraço
He-Man
Cross Country Paraglider
Parabéns, por toda sua trajetória até aqui. Tenho certeza que novas conquistas virão.
Seu relato é bem reflexivo rsrs , me fez refletir, qual é meu objetivo?
Enfim, vc é "brabo"!
Obrigada por compartilhar um pouquinho da sua experiência.
Grande abraço e ótimos voos!
Nilceia Lima
Parabéns pelo relato e parabéns pelo desenvolvimento no esporte. Acompanhei de perto o inicio de tudo lá no Pico do Urubu / Mogi das Cruzes, lugar onde era sua segunda casa por um bom tempo e tive o prazer em voar com você e sempre reparei que você era diferenciado, voava de coturno velho "um estilo meio duvidoso" com uma vela saída de escola bem surrada, porém "com muita determinação e vontade de voar cada vez mais longe"... e assim foi!
Com a velinha surrada saída de escola vc deixava a maioria dos pilotos com velas melhores para trás, inclusive eu! :)
Parabéns pelo ótimo piloto que você se tornou e fico muito feliz em ver você passando conhecimento para…