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Decolar é uma opção, pousar é uma obrigação.

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Seja bem-vinda, Primavera!

Apesar de ainda faltar um pouco mais de um mês para o final do inverno, estamos entrando em uma fase de transição na atmosfera. Oficialmente o inverno termina as 3hs50m, de 23 de setembro de 2023. Época de céu azul, pressão alta, dias difíceis de subir e aquele friozinho delicia quando pega teto alto. Mas já conseguimos observar mudanças abruptas do clima durante o dia. Bom, mas o que isso representa pra nós voadores? Vamos dizer que é a época que se você não estiver com olhar bem treinado, mas mesmo acompanhando a previsão do tempo, você pode ser surpreendido, literalmente é quando o homem chora e mão não vê. Bom, é fato que se você acompanhar os vários modelos meteorológicos disponíveis, sabendo interpretar, confrontar informações, será muito difícil você ser surpreendido por qualquer anormalidade que venha acontecer na atmosfera durante seu dia de voo. Terei como referência o dia de hoje 12/08/2023 aqui na região Sudeste, mais especificamente São Paulo, região da Serra da Mantiqueira e Vale do Paraíba.

Começamos o dia com uma forte camada de nuvem Cirro cobrindo toda a região e filtrando bem o sol. Como sabemos já um dos principais indicativos que teríamos uma mudança de condição da atmosfera, no entanto pela previsão a mudança radical iria ocorrer no domingo, mas o que todos nós não contávamos era que a base frontal da frente fria chegaria na nossa região durante o dia de hoje, sábado, e pra piorar no horário de voo. Eu mesmo, antes de sair de casa tinha visto alguns modelos meteorológicos e não vi nada de anormal, mas sabia da mudança, mas a atmosfera é dinâmica e é imprescindível saber interpretar.

Na foto acima, vemos a linha de instabilidade se deslocando de noroeste e a frente fria subindo do sul do País.


Estávamos na rampa norte, vento norte de uns 15 e de vez em quando acelerava um pouco, mas nada de anormal com vento. Mesmo com a camada de Cirro estava esquentando bem e alguns amigos já aproveitaram e decolaram a partir das 11hs e ficaram segurando no voo termal na rampa norte e foram chegando mais pilotos pra voar. a rampa de voo do Pico Agudo fica a 1630 do nível do mar e o pouso que fica já no vale do Paraíba, fica a 550 do nível do mar. Aqui cisalhamento é normal, então você pode pegar decolagem com vento norte de 25km de velocidade e pousar de sul a 15km de velocidade, aqui muitas vezes isso pode acontecer. Principalmente pela altura da serra nesse trecho e a nossa proximidade com mar, que fica aproximadamente a 90km em linha reta. Já fiz esse voo em 2015, Pico agudo x Ubatuba.

Voltando, ao momento, muitos pilotos já decolando e eu acabei fechando um voo pra fazer, me equipei e equipei minha passageira e estávamos aguardando nossa vez pra poder decolar, pois a decolagem estava bem engarrafada. Mas neste momento começou a mudar o vento, começou ameaçar de virar sul, e eu pra ser sincero não gosto dessas mudanças, mas principalmente por eu preferir voar na face norte, ao menos que a face sul esteja funcionando e sei que nessa época é mais difícil, já na primavera ou verão é tranquilo, sempre vai funcionar da mesma forma. Bom, acabou realmente mudando e fomos pra rampa sul e lá tivemos o visual geral do que estava acontecendo no vale, pois da norte não temos essa visão por estar atrás das arvores. Alguns amigos já decolaram e subiram na cara da rampa sul, e nos posicionamos. Já equipado e com mais tempo observo bem as nuvens na altura de São José dos campos ao vale de monteiro Lobato onde geralmente são fortes geradores de área de instabilidade, e lá estava ela. Volto o olhar pra galera que estava voando e de repente o vento vira de oeste, e estava sul. A tonalidade das nuvens estão mudando rápido, junto suas características, a galera voando próximo da rampa é avisada que o vento mudou de oeste na rampa pra se afastarem e uns que ja estavam na frente da rampa, visivelmente já tem mais dificuldade pra avançarem. Bom, neste momento eu já nem estava mais pensando em voar, ainda mais no duplo. Já desconectei minha passageira e falei quem manda é a natureza. Bora pro Bar!

Tínhamos em torno de uns 7 pilotos em voo, talvez mais, a maioria com boa experiência, talvez poucos deles em voo tinha menos de 2 anos de voo, acredito. Pousaram todos bem, muitos deles pousaram de ré, mas bem. Bom, essa é uma característica muito interessante que ocorreu. O Frontal da frente chegou com gosto, veja no exemplo abaixo o que aconteceu.

O ar frio avança como uma "roçadeira" soltando toda energia de calor acumulada na superfície junto com a energia do deslocamento de massa de ar frio, gerando vento mais acelerado. Um ponto de se observar que ocorria muito quando eu voava em Mogi das Cruzes no Pico do Urubu, era justamente nos dias que tinha previsão de chuva e mesmo assim eu ia voar, mas era chuva de instabilidade, nuvens convectivas e quando entrava o sul, era hora de descer, mesmo estando super bonita a rota com bastante cúmulos do jeito que gostamos. Mas era o sinal de que eu precisava descer, pois a chegada do sul em uma condição de vento norte, no pico do dia de atividade térmica as 13 ou 14hs, era o sinal de que foi ligado o LIQUIDIFICADOR. Mas existe algumas características dessas condições e irei mencionar apenas duas que eu acho interessante em voar, já treinei muito e gosto desse tipo de voo.

Voo de onda, frontal da frente fria.

Nesse voo, decolo pra aguardar a virada do vento e aumento de sua velocidade no ar para fazer uma boa distância no dia. Lógico que é interessante você se organizar e estar em um local que te ofereça uma rota bacana pra você fazer de acordo com a direção do vento que estiver prevista para você seguir o voo, pois com certeza pode entrar vento com velocidade muito superior ao que você estaria esperando e pra isso o importante é se manter alto. Como a massa de ar frio está em deslocamento, fazendo subir toda energia acumulada, você voa nessa onda, entretanto as térmicas já não são mais uniformes como de costume, o vento pode atrapalhar muito mas também pode te beneficiar muito, é muito relativo, mas geralmente se você esta a uma distância muito boa da frontal da frente, pois em voo ela fica bem visível pra você, é um voo muito interessante, mas tem que ficar atendo ao limite de segurança, pois se a frontal chega muito próximo de você, e como você está em uma área que está em desenvolvimento rápido, pode ser que ela te alcance e as coisas fique muito mais complicadas e você tenha que descer de qualquer maneira e subir não será boa opção mais.

Voo de linha de instabilidade de nuvens convectivas.

Neste voo basicamente decolo sabendo do que vai acontecer e geralmente sei o ponto de onde vai surgir a linha de instabilidade, pelos estudos que fizemos antes, mas isso acaba ficando muito evidente quando você já está voando. a diferença do frontal da frente é que não tem ventos muito fortes, mas isso depende muito da intensidade desta linha de instabilidade, o deslocamento do ar pode ficar mais intenso de acordo com a intensidade da chuva desta instabilidade e a ela acaba ficando mais dinâmica, pois ela pode fazer a volta por você e e entrar na sua rota, caso você não enxerga a evolução desta linha.

Veja nas imagens abaixo dois bons exemplos de voos em linhas de instabilidade de nuvens convectivas. Na minha lateral a linha de instabilidade da foto 01 e a minha frente a condição de voo de um dia normal. Entretanto, não é um dia normal.


Cidade de Santa Rita do Sapucaí, MG. Chuva atrás da cidade. Linha instável de nordeste. Foto 1

Minha rota sentido Cambuí. MG. Repare que as características das nuvens. Foto 2


Neste dia eu fiz um voo de 105km, Decolei de Santa Rita, fui no contra vento até Heliodora mas lá a linha começou a chegar muito perto de mim, então decidi voar mais na cauda do vento pra poder impor mais velocidade, pois quando você se aproximada muito da linha a região sofre alteração dos ventos e se a linha estiver em maturação o vento provavelmente vai estar puxando você pra ela. Por isso é importante manter uma distância segura e observar bem o que está acontecendo. Veja um detalhe interessante na foto 2 que as nuvens a esquerda da fotografia já estavam mudando sua tonalidade e se juntando mais que o normal. Neste momento eu vi que ela provavelmente iria me interceptar lá na frente e eu teria duas opções, lógico fora a opção de pousar, que não era o intuito neste momento. Bom, acelerei o voo, pois estava voando de Boomerang 11 e cheguei junto com ela em Cambuí. consegui cruzar ela antes dela fechar e pousei sentido Paraisópolis onde estava com céu azul. Porem, como a linha de instabilidade estava puxando toda energia da região para maturação das nuvens, acabou que cessou a energia de toda a região em volta, ai fiquei baixo e pousei.


Amigos pilotos, isso aqui não é nenhum incentivo para que você faça esse tipo de voo e voe em condições como essa, se você não tem experiência com leitura da atmosfera, leitura de sites de previsão e um equipamento rápido e técnica para sair de qualquer situação de perigo, não faça! Não sou meteorologista, mas tenho o estudo da meteorologia tanto na teoria quanto na pratica para meu desenvolvimento como piloto de longa distância para eu não cair em roubada ou ser surpreendido por uma situação indesejada. "há, mais isso vai evitar de um dia algo de ruim acontecer com você?" Mais é claro que não! No entanto, será mais difícil de algo como isso me surpreender, mais na dúvida, o melhor a fazer é não decolar, observe do chão que com certeza você terá uma grande lição e poderá usar para sua segurança nos seus voos.


Lembre-se que tudo tem um proposito, inclusive os pilotos que voam e buscam esse tipo de condição para voarem. Cada um sabe o seu e cada um sabe onde o calo aperta, entretanto é imprescindível fazer com segurança, usando toda a técnica de leitura e domínio do equipamento, caso seja necessário usar. Decolar é uma opção, pousar é uma obrigação.


Vagner campos,

instrutor e piloto recordista mundial de objetivo declarado.

12/08/2023



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1 Comment


glaucofernandonunes
Aug 13, 2023

Show meu amigo, como sempre passando suas experiências do vôo.

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