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QUE NADA NUNCA NOS LIMITE

  • ventobravomkt
  • 26 de set.
  • 5 min de leitura
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Por Monica Ferreira QUE NADA NUNCA NOS LIMITE

E não é que estou aqui de novo? Quem, depois de “veia”, resolveu correr de boi?

Pular cerca? Sair escoltada de fazenda? Pegar carona na garupa de moto? De

trator? Correr de enxame de abelhas? Mas sem tudo isso, o que sobra da vida pra

contar?

Me chamo Monikinha, tenho 64 anos. Sou mãe de dois puta homens, Fábio e

Fernando. Tia da Carina (maravilhosa). Avó da Maria Luiza (amor da minha vida).

E, desde que era “preazona” no voo, esposa do Marcelo, meu parceiro de todas

as horas.

Minha história com o voo livre começou com um convite para um voo duplo. Foi

uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida — por um momento,

achei que desmaiaria de tanto medo. Iniciei o curso por tédio. Exatamente isso:

tédio. Eu estava no auge da carreira, tanto como gestora em saúde, como

professora universitária em psicologia e medicina, com trabalhos publicados e

outras coisinhas. Divorciada, meus moleques já tinham deixado o ninho. Não

havia mais desafios. E por que não treinar inflagem de vela?

Sempre fui do esporte. Subir montanha a pé já era hábito. Eu ficava olhando o

povo voar e pensava: “Nem morta eu me formo.” Pois formei. E, a partir daí,

começou uma relação de amor e medo com o esporte.

Meu filho mais velho, inconformado com uma mãe nada tradicional, tentou me

alertar para os perigos. O mais novo, mesmo preocupado, preferiu me incentivar.

E eu nunca estive sozinha: sempre contei com pessoas maravilhosas que me

adotaram, me apoiaram e me ajudaram a enfrentar o medo. Um deles foi meu

amigo Duva, que, percebendo minha dificuldade motora, me ajudava nos treinos

de solo e sempre acreditou em mim.

Logo no início também apareceu o Lukinha, da Top Fly Brasil. Ele me desafiava

como piloto: me levava em duplos com manobras, voos rebocados, fazendo o SIV.

Ah, o SIV... como andei pra trás. Descobri não o que eu podia fazer, mas o que a

vela era capaz. Relação de amor e medo, lembram?

Nesse meu medo, contei muito também com o Daverson (o “mundoébao”), que

até hoje me incentiva.

Foi nessa época que um amigo me chamou para uma trip de voo na Europa. Claro

que fui. Ele acabou não indo, mas, mesmo assim, com apenas 30 voos, conheci e

preguei em várias rampas de diversos países. Foi aí que fiz amizade com o

Marcelo. Desde o começo, ele se tornou meu mentor mais importante. Me

apresentou ao Hike and Fly e compartilhou sua experiência de mais de 25 anos de

voo.

Com o tempo, a amizade e as muitas montanhas com glider nas costas tomaram

outro rumo: resolvemos juntar os tirantes. Assim nasceu o Casal Hike and Fly,

com milhares de seguidores e muitos troféus conquistados, tanto em equipe

quanto individualmente. Passamos a nos apoiar nas subidas de montanha, nos

voos e nos resgates — e, claro, numa grande rivalidade. Um não pode ver o outro

passando perrengue que já saca o celular.

Quem vê postagem em rede social não imagina o que acontece nos bastidores. A

primeira vez foi na França: eu e o Rodrigão subindo a montanha em Annecy com

os gliders. Marcelo resolveu cortar caminho e, para se livrar de mim, o Rodrigão

disse: “Vai com ele.” Resultado: nos perdemos e levamos mais de uma hora pra

voltar pro caminho. (Se eu fosse mais esperta, já teria percebido que essa

amizade ia me meter em inúmeras roubadas!).

Outra vez, numa rampa que normalmente subíamos pela estrada, o Marcelo

soltou: “Vamos pela frente da montanha, não dá nem 1,5 km.” Meu filho…

demoramos três horas! Mata fechada, cobra, inclinação insana. Bem feito que

depois ele teve câimbra no abdômen.

E não parou aí. Fizemos trilhas desconhecidas na Suíça, na Espanha e, semana

passada, lá veio ele de novo com a ideia de “subir pela frente da montanha”.

Claro: cercas e mais cercas puladas, correr de boi, sol escaldante… e o que era

pra durar 75 minutos levou intermináveis 140.

Mais ou menos isso: entre roubadas e não roubadas, foram centenas de voos,

dezenas de rampas conquistadas, várias viagens à Europa e ao Brasil de

motorhome. Uma vida inteira de aventuras no ar e na montanha.

Aposentei. Mudamos para uma cidade do interior com uma rampa maravilhosa, o

Pico Agudo, e fizemos muitos amigos. Para mim, em especial, a Ana Catarina, a

Nil, a Rose e outras mulheres fantásticas. Conheci também o instrutor de cross,

Vagner Campos, que me tirou da gaiola e me apresentou o voo de distância. Foi

paixão à primeira térmica — e criação de novos medos.

Monica no Cross num dia clássico decolando de Santa Rita do Sapucaí MG e pouso no Oficial do Baú 60km.
Monica no Cross num dia clássico decolando de Santa Rita do Sapucaí MG e pouso no Oficial do Baú 60km.

Um dia, falando justamente dos meus medos, ele me disse: “Se não for para se

divertir, não voe.” Desde esse dia, o divertimento sempre superou o medo.

Mas nem tudo são voos sem turbulência. No ano passado sofri um acidente e tive

uma séria fratura de vértebra torácica. Fiquei meses sem voar. Mas sou

cabeçuda: após uma semana, o médico me disse que eu podia caminhar no

quintal com o colete. Para mim, a montanha é meu quintal. E a dor, só um

lembrete dos limites.

Foi uma recuperação estranha. O ortopedista me liberando após uma semana

para caminhar, enquanto o neurologista — por coincidência e orgulho, um

ex-aluno da medicina, Dr. Renan Calabró — dizia que eu não poderia nem

carregar uma sacola de mercado. E é óbvio que não obedeci. Subia montanha,

treinava musculação, me lascava de dor… até que um dia ele me liberou para

voar. E é claro que eu já tinha feito vários voos, mas agora com alguns cuidados:

quando estou a 400 metros do chão largo a “brincadeira” e me concentro em

achar pouso seguro; em dia de vento mais apertado, não decolo.

E assim voltei. E percebo que voltei diferente: sei que, pela idade, meu corpo é

mais frágil, mas também voltei mais forte e confiante. São os paradoxos do

esporte.

Aqui vou me parafrasear, porque um dos motivos de escrever é despertar

mulheres a quebra de barreiras, falo em barreiras impostas pela sociedade que

nos colocam em um lugar pré-estabelecido (voar é um esporte basicamente

composto de homens). Mas não é deles. E a maior dificuldade que temos não são

os CBs, as térmicas fortes, as fechadas — é o preconceito. Muitos nos tratam

como se fôssemos incapazes. Quando conseguimos algum voo diferenciado,

falam que o equipamento é que é bom. Existe uma mistura de cuidado com

desdém.

Mas também existem os que torcem. Em competições de hike and fly, quando

subindo montanha, muitos homens, ao serem ultrapassados por mim, incentivam.

Não se sentem ofendidos em sua masculinidade.

Pensando assim, sou mulher e idosa. O que a sociedade teria reservado para

mim? Tricô? Baralho? Por isso acredito que cabe a nós nos colocarmos nos

lugares que desejamos. Essas barreiras também são internas: quando nos

despimos dos lugares pré-estabelecidos, estamos nos expondo. Temos de estar

preparadas para as turbulências que virão — e são inúmeras.

Espero que minha história inspire outras mulheres (principalmente a Maria Luiza)

a desafiarem as convenções e a encontrarem a beleza na jornada, seja ela nos

céus ou em qualquer lugar onde seus desejos as levem. Que todas encontrem

sua própria versão de voar e experimentem a maravilha de se libertar das

amarras.

QUE NADA NUNCA NOS LIMITE. Monica Ferraira Pilota há 6 anos. instagran @monicahalm

 
 
 

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